segunda-feira, 30 de maio de 2011

O inicio da viagem

Sentado num banco do jardim, um rapaz com um aspecto jovem mas pouco cuidado com uma mochila enorme ao seu lado, observava as pombas que se encontravam à sua frente, cada vez apareciam mais, lutavam por migalhas mínimas que se alojavam entre as pedras cúbicas da calçada. Uma agitação frenética e um aglomerado de pombas cada vez maior. Observa-as atentamente, pelo menos aparentemente, um olhar mais atento repara que o olhar dele é vazio e focado apenas naquela agitação por mera coincidência. Um cigarro ao canto da boca ia desaparecendo a pouco e pouco, estava tão concentrado nos seus pensamentos que já não se lembrava que o tinha acendido.
- Tens lume? - Perguntou uma jovem, com um aspecto moderno, muito bem cuidado e com cerca de vinte anos. Ao abordá-lo e ao passar à sua frente afugentou todas as pombas que agora esvoaçavam e rasgavam o ar que os rodeia, pousando pouco depois mais à frente para uma nova busca de comida, não tinham parado de bicar mas não pareciam satisfeitas. Passa-se o mesmo com as pessoas, nunca estamos satisfeitos com aquilo que temos.
- Ahm?? O quê? - Respondeu o rapaz como se tivesse acabado de acordar. Contudo, não acordou com a voz da rapariga, mas sim com agitação das pombas.
- Desculpa incomodar, não te queria assustar - disse ela num sussurro quase a gaguejar, porém, possuía uma voz doce e suave que deixou o rapaz encantado. - Perguntei-te se tinhas lume.
- Ah.. Ahm.. sim.. sim.. claro - respondeu o rapaz de forma atrapalhada, ainda um pouco atordoado, levou a mão ao bolso direito dos calções e tirou um isqueiro de metal, um zippo tradicional. - Toma.
- Obrigado - Agradeceu, acendeu o cigarro e devolveu-lhe.
- (de) Nada. - Respondeu ele com uma voz fraca, como se pressentisse o fim desta pequena conversa. No entanto ela reparou nesse aspecto.
- Não pareces bem.. Está tudo bem?.. desculpa a indiscrição. - a suavidade e a pureza da voz dela deixava o rapaz mais hipnotizado do que já estava. A verdade é que aquela voz era música para os seus ouvidos. Eu tenho de dizer alguma coisa, não posso perder esta oportunidade de conhecer esta rapariga. - pensou ele.
- Não tem mal - precipitou-se a responder, disse tão rápido que quase que a assustava, notou-se que ficou admirada. -  Ahm.. pois.. é que.. é isso.. realmente tens razão, já tive dias melhores - lamentou-se, com olhos postos no chão, incapaz de olhar aqueles olhos castanhos avelã, que pareciam sorrir para ele.
- Pois, dá para reparar. Há alguma coisa que eu possa fazer? - A rapariga insistia em tentar ajudar, falava de forma calma e segura e parecia começar a cativar a atenção do rapaz. - Pelo menos posso-te ouvir, se quiseres, claro. Há quem diga que sou boa ouvinte e boa conselheira. -  insistiu outra vez, mas agora esboçando um sorriso no final, ele olhou para ela no momento em que ela sorriu e ficou maravilhado. Parecia que no espaço de cinco minutos tinha passado do mundo negro e cinzento para o mundo colorido e sorridente. Ao ver aquele sorriso foi incapaz de não esboçar um também, embora não tivesse mostrado os dentes. A verdade é que a rapariga estava a fazer progressos. Ele parecia mais animado, embora ainda muito cabisbaixo e com um olhar triste, porém, as coisas pareciam estar a encaminhar-se.
- Obrigado. - Viu-se que foi um "obrigado" sincero, encarou-a nos olhos e respondeu, mas logo a seguir voltou a por os olhos na calçada - Há muito tempo que não falava com alguém como tu, pareces preocupar-te comigo, até reparaste que não estava bem, falas com uma simpatia enorme e uma delicadeza que eu desconhecia, isto tudo sem me conheceres. Deves ser uma rapariga fantástica, só uma... - O rapaz estava tão admirado com a simpatia dela que estava a divagar e a rapariga interrompeu-o.
- Hey, obrigado pelas palavras, eu estou aqui para te ajudar no que for preciso, já chega de elogios - disse a rapariga num tom calmo e sorriu para ele - Vamos fazer assim, vamos começar do principio, como te chamas?