domingo, 22 de maio de 2011

(ANÁLISE) da foto da minha vida


"Tão ABSTRATA é a ideia do teu ser 
Que me vem de te olhar, que, ao entreter         
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista, 
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente, 
E a ideia do teu ser fica tão rente 
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me 
que tu és, que, só por ter-me 
Consciente de ti, nem a mim sinto. 
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto 
A ilusão da sensação, e sonho, 
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo 
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho 
Do interior crepúsculo tristonho 
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo." 
      
Fernando Pessoa      12-1911

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